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Comemorações do Centenário do 5 de Outubro em Guimarães | Escola Secundária Francisco de Holanda

quarta-feira, 31 de março de 2010

Guimarães em 1914


A antiga igreja paroquial de S. Paio, vista a partir do Toural
 
27-2: Decreto concedendo à Câmara de Guimarães o edifício da igreja paroquial de S. Paio de Guimarães.

1-3: Saiu o 1º número do "Echos de Guimarães", semanário monárquico, sob a direcção do Dr. João Rocha dos Santos. Por causa de alguns artigos bravos contra a república, o governador civil do distrito proibiu ou suspendeu a publicação deste jornal, que terminou com o nº 104, dois anos completos, em 12 de Março de 1916.Reapareceu com o título "Voz de Guimarães" em 30 de Março e 6 de Abril de 1916, 2 números, continuando desde o nº 3, em 16 de Abril de 1916 a publicar-se com o 1º título.

17-3: Na noite de hoje para o dia 18 mutilaram a imagem do Senhor do Amparo que se venera em Oratório no terreiro do Cano e deceparam-lhe a cabeça. Os sacrilégios deixam lá um papel com os dizeres: … infâmia? – Não; a vingança é nobre quanto justa. Querem guerra? – Teremos Guerra.

5-4: Publicou-se hoje o nº 1 do semanário independente "Castelo de Guimarães". Director o prior Luís José Dinis. Administrador José Joaquim Vieira de Castro e editor Luís Ribeiro de Faria. Impresso em Braga.

8-4: Grande reunião, promovida pela Associação Comercial que se constituiu na sala das suas sessões em assembleia geral conjunta com numerosos habitantes de todas as classes sociais da cidade e concelho, a fim de protestar contra o projectado desmembramento do nosso concelho, tirando-lhe bastantes freguesias para formar novo concelho em Vizela. Em virtude de o salão ser pequeno para conter enorme massa, depois de lida a acta da sessão anterior, por proposta do presidente, todos se dirigiram para o teatro de D. Afonso Henriques e aí se explanaram os trabalhos, ficando resolvido: - Que a Associação Comercial, de comum acordo com a Câmara Municipal e com todas as colectividades interessadas, empregue todos os seus esforços para obstar à desanexação de qualquer parte deste concelho e procure fraternalmente harmonizar quaisquer dissidências.

8-4: Às 2 horas da tarde o comércio fechou as suas portas e o teatro D. Afonso Henriques encheu-se de povo de todas as classes sociais para o comício. Discursaram o presidente da Associação Comercial, Eduardo Manuel de Almeida, dr. Moreira Sampaio, presidente da Câmara Municipal e o redactor do jornal "Alvorada". Apurou-se que as freguesias que queriam fazer parte de um concelho de Vizela estavam pagando 35 por cento e se fossem pagariam 70 por cento. Foi aprovada uma moção. Recebeu-se com aplausos 1 telegrama favorável. À noite, em regozijo, houve marcha aux flambeaux, levando os estandartes das corporações civis.

15-4: Às 6 horas da manhã, depois de finda a missa das almas, foi o Santíssimo. da igreja de S. Paio (que ia demolir-se) conduzido para a igreja de S. Domingos, acompanhado de muito povo, e ai ficou instalada a paróquia de S. Paio.

20-4: Reunião muito concorrida na Câmara Municipal, em que a comissão que tinha ido a Lisboa para impedir a projectada criação do concelho de Vizela expor seus trabalhos.

26-4: Na igreja de S. Francisco houve um acto de desagravo a Jesus, constando de comunhão das 6 às 9 horas, exposição ao Santíssimo. e à tarde alocução, por um sacrilégio feito em 17 para 18 de Março ao Senhor do amparo que se venera em oratório no terreiro do Cano, pedindo perdão a Deus para os autores do mesmo sacrilégio.

30-4: Morreu o Manuel Grenha, surrador, levou música dos Guises, o padre de S. Miguel de Creixomil (era o reitor António Joaquim Ramalho) não o acompanhou (para o cemitério?) em desforra de isso os operários da Rua de Couros na vinda do cemitério foram-lhe quebrar alguns vidros da casa onde morava. (Este facto deve ser a 1 ou 2-V) - Notícia do José da Viela.

28-5: Saiu o 1º número do jornal "O Malho", semanário crítico e humorístico. Director e editor José Ferreira.

1-6: Às 11 horas da noite terminou a greve dos operários fabricantes de calçado, na associação de classe, ao cabo de um acordo entre industriais e operários, quase 600 operários alcançaram aumento mas não queriam.

21-6: Veio processionalmente à igreja da Costa Nª Sª da Lapinha.

26-7: Houve romaria na Costa e andores.

2-8: Houve festas gualterianas e marcha.

13-9: Em sua reunião, a direcção da Associação Fúnebre Familiar Vimaranense entende que “de forma alguma convém a esta instituição estar junta com as Associações de Classe porque quase sempre, dentro delas, os seus membros fazem política, o que prejudica as associações desta natureza, aonde se encontram sócios de todas as classes.

2-10: Principiou a carreira de automóvel para Braga.

1-11: Domingo às 9 horas e meia da noite José Joaquim Gomes da Silva Couto, director do jornal "Castelo de Guimarães" passava nas imediações do Hotel Avenida, em cujos baixos costumam geralmente reunir-se uns indivíduos conhecidos como defensores da republica, quando dum grupo deles saíram palavras obscenas e gritos de mate-se! Mate-se! O couto sem ligar importância à provocação que lhe faziam, seguiu caminho quando, de repente, assaltando-o e agarrando-o cobardemente o agrediram, fazendo-o rolar pelo chão! O Couto apresentou queixa em juízo.

FARIA, João Lopes, Ephemérides , manuscrito, Sociedade Martins Sarmento

terça-feira, 30 de março de 2010

1914: Bernardino Machado à frente do Governo

Bernardino Machado
No ano em que deflagra na Europa a I Grande Guerra, Portugal reforça as suas posições militares nas possessões coloniais, registando-se incidentes fronteiriços com tropas alemãs. Em Moçambique, a 25 de Agosto, dá-se o primeiro incidente de fronteira, com o ataque alemão ao posto fronteiriço de Maziúa, na fronteira do Rovuma, tendo sido morto o chefe do posto e sendo incendiado o posto e as palhotas vizinhas. Em Outubro, no sul de Angola, são mortos três alemães, parte de uma missão, que tinha entrado na província sem autorização, e acampado na margem esquerda do Cunene, mas já no território da província.

Ainda antes de declarar guerra à Alemanha, o Governo britânico propõe a Portugal que se abstenha de fazer qualquer declaração de neutralidade, que não favoreceria os interesses britânicos, que assim não poderia contar com o apoio de Portugal, caso fosse necessário. O Governo britânico, que a 14 de Agosto apresenta a sua declaração de guerra à Alemanha, informa o governo português que, em caso de ataque alemão a colónias portuguesas, se considera ligado pelos termos da aliança anglo-portuguesa.

Movimento monárquico contra a participação portuguesa na guerra e contra uma eventual política de colaboração num governo nacional. Verifica-se uma sublevação em Mafra e um recontro com tropas republicanas próximo de S. Pedro da Cadeira. Foram cortadas as comunicações telegráficas entre Lisboa e Porto e interrompidas algumas ligações ferroviárias. Registaram-se incidentes em Braga, Bragança, Famalicão e Santarém. Os sindicalistas são acusados de participar nestes movimentos. Em Lisboa, como represália, são atacados jornais monárquicos ("Jornal da Noite", "Restauração", "Ridículos", "Talassa").. As alarmantes notícias sobre o eclodir da guerra na Europa levam a uma corrida aos Bancos e ao Montepio Geral, para levantamento de depósitos. Muitas pessoas tentam trocar as notas por ouro, provocando uma crise financeira.

Afonso Costa, sob pressão do Presidente da República, Manuel de Arriaga, apresenta a demissão, sucedendo-lhe Bernardino Machado, figura consensual entre os vários partidos, que amnistiará monárquicos e presos por questões sociais. No campo sindical, o Congresso Operário de Tomar consagra a ascensão da corrente anarco-sindicalista. Na direita, organiza-se o Integralismo Lusitano. Em Dezembro, o partido democrático apoia a formação de um novo governo, chefiado por Victor Hugo Azevedo Coutinho. Fernando Pessoa assume o heterónimo de Alberto Caeiro.

Principia a discussão na generalidade, na Câmara dos Deputados, da lei de Separação do Estado das Igrejas de Abril de 1911. Esta longa discussão, que só terminou a 29 de Junho, foi infrutífera já que a lei não foi alterada, não chegando a ser discutida na especialidade.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Guimarães em 1913

A Colegiada de Guimarães
 
8-1: Na sede das escolas centrais fez-se às 11 horas e meia o acto inaugural da Cantina Escolar Vimaranense.

9-3: Domingos de Passos. Não foi permitido haver Procissão de Passos.

16-3: Em desagravo pelas ofensas que têm sido feitas ultimamente ao Altíssimo, houve na igreja de S. Francisco, de manhã grande comunhão geral, exposição do Santíssimo. e de adoração por turnos até às 5 horas da tarde, sermão do padre Roriz, acto de representação e consagração e bênção eucarística.

15: 4-A Irmandade das Almas, que esteve sempre instalada desde que foi instituída na antiga igreja paroquial de S. Paio, muda-se para a Basílica de S. Pedro, ao Largo do Toural, no dia em que aquela foi fechada ao culto para ser demolida.

22-4: Como todas as indústrias, a importante indústria de curtumes de Guimarães sofre uma crise tremenda que deixa sem abrigo e sem pão centenas de operários.

29-4: Será festejado galhardamente nesta cidade o 1º de Maio pelo povo trabalhador que se esforça por dar à sua festa o maior brilho.

5-7: No jornal portuense "O Primeiro de Janeiro", nº 157, lê-se:" Desacato a um monumento nacional. Somos informados de que, estando a proceder à demolição do coruchéu da torre da Colegiada de Guimarães, sem que para isso tenha sido ouvido o Conselho de Arte e Arqueologia respectivo, demolição singular que nenhuma indicação superior de defesa artística aconselha, e tratando-se de mais de um monumento nacional de extraordinário valor, resolveu aquele Conselho interferir imediatamente no caso, tendo ido de propósito a Guimarães três dos seus vogais examinar o estado da obra, já adiantada infelizmente, e chamando para o caso a atenção da autoridade administrativa. Consta-nos que foi há pouco enviado pelo Conselho de Arte, 3ª circunscrição, um telegrama à direcção geral de instrução superior e especial, pedindo providências urgentes, em defesa do referido monumento. "

25-7: Termina a greve geral das 4 artes de construção civil, que era reivindicativa do horário das 10 horas de trabalho, pois é acordado desta maneira: de Abril a Setembro, entrada às 6 e saída às 19, com meia hora para almoço e duas horas para jantar; nos restantes meses, entrada ao amanhecer e saídas ao anoitecer; aos sábados, saídas às 5 da tarde. Era meia-noite quando se chegou a este acordo, altura em que troaram alguns foguetes.

2-8: É promulgada mais legislação por parte do Governo, a completar a já publicada em Setembro de 1911, que permite à Câmara Municipal de Guimarães recolher vário espólio artístico das igrejas do Concelho e ficar da posse do Tesouro da Colegiada, valores que ficam, temporariamente, à guarda da SMS.

29-8: Atingia 8 dias de duração a greve dos sineiros da Diocese de Braga, contra o Edital das autoridades administrativas “só permitindo que os sinos tocassem de cada vez apenas dois minutos”.

21-11: No edifício que antes era ocupado pelo Colégio das Doroteias acaba de ser instalada a 3ª secção agrícola, sendo seu director o nosso patrício João Coelho da Mota Prego que é um dos mais competentes e sábios agricultores do país.

FARIA, João Lopes, Ephemérides, manuscrito, Sociedade Martins Sarmento

domingo, 28 de março de 2010

1913: Instabilidade política

Em Janeiro de 1913, Manuel de Arriaga viu-se obrigado a chamar Afonso Costa para constituir um governo maioritariamente democrático, embora contasse com o apoio dos unionistas. Resiste a diversas tentativas de derrube, ao mesmo tempo que manda encerrar a Casa Sindical. Uma dessas tentativas foi perpetrada, por republicanos contra o primeiro governo republicano de Afonso Costa, pouco meses depois da tomada de posse. Os conflitos com a Igreja aumentam, continua a perseguição anti-clerical, com a proibição dos bispos de Coimbra e Viseu residirem nos distritos das suas dioceses, e o governo corta as relações com o Vaticano e fecha a embaixada de Portugal junto da Santa Sé.

As tensões políticas aumentam: por meio de um ofício secreto, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Edward Grey, informa o seu embaixador em Portugal, Arthur Hardinge, de que o governo da Grã-Bretanha «opor-se-ia à intervenção de qualquer outra potência excepto a Espanha» nos assuntos portugueses; os monárquicos tentam, por duas vezes, neste ano, o derrube da república.

O governo Afonso Costa retira o direito de voto aos chefes de família analfabetos. O sufrágio universal deixa de existir em Portugal ao contrário de países como a Alemanha, Itália, Áustria, Montenegro, Suécia e Suíça. O número de eleitores é igual ao existente no tempo da monarquia.

O orçamento foi equilibrado, mas os democráticos perderam apoios junto da pequena e média burguesia urbana e sobretudo no muito activo movimento operário.

O embaixador alemão, príncipe Lichnowsky, e o secretário do Foreign Office, Edward Grey, concluem as negociações de revisão do acordo anglo-alemão de 1898, cuja versão definitiva será rubricada a 20 de Outubro. Através destas negociações, ambas as potências admitem que grande parte de Angola e Cabinda, S. Tomé e Príncipe e Niassa, no norte de Moçambique, passarão para a esfera de influência económica alemã. Este acordo não seria publicado e o eclodir da I Grande Guerra inviabilizará a sua ratificação.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Guimarães em 1912

 O Teatro D. Afonso Henriques em 1912

24-3: Domingo de Passos – Não houve procissão de Passos; a autoridade administrativa não deu licença.

19-4: As classes operárias de Guimarães associam-se à Federação Operária do Porto para reivindicar a melhoria das condições de vida: carestia de alimentação e carestia de habitação.

20-4: Principia, pela capela-mor, a demolição da igreja de S. Paio (outra vítima da República e neste dia aniversário da gloriosa lei de separação da igreja do estado).

20-4: Faleceu na freguesia de Tagilde o Padre João Gomes de Oliveira Guimarães, conhecido como Abade de Tagilde, notável figura vimaranense, historiador e diplomata ilustre, organizador da notável colectânea de documentos históricos designada por “Vimaranis Monumenta Historica.
 
23-4: Começa uma greve dos operários marceneiros da Fábrica de Móveis de João de Sousa Neves por despedimento de um trabalhador, prolongando-se por todo o mês, com os seus participantes a receberem auxílio monetário dos operários da cidade, vindo a acabar este movimento laboral somente a 3 de Maio seguinte.
 
9-5: Neste dia e no seguinte ficou quase todo demolido o albergue de Nossa Senhora do serviço, no Terreiro das beatas do Anjo, lateral à igreja de S. paio, mais tarde também demolida.
 
3-6: Segunda-feira. - Às 12 horas da manhã, no salão nobre da Associação de Classe dos Empregados do Comércio, reuniu o grupo de propaganda "Por Guimarães" e as associações de classe e grupos associativos e imprensa; foi pouca a concorrência. Telegrafaram ao Presidente da República e ao dr. Eduardo Almeida para não ser criado o concelho de Vizela.
 
13-6: Às 6 horas da tarde, quando se dirigia da igreja das Dominicas, onde tinha pregado na festa de Santo António, para a de S. Francisco para concluir também a festa de Santo António, foi preso para a esquadra policial o padre Gaspar Roriz, dizendo-lhe que por andar de hábitos talares, vestindo ele batina por baixo de um casaco à conselheiro. Após algumas peripécias foi restituído à liberdade, sendo então acompanhado, por inúmeras pessoas que se encontravam à porta da esquadra, à igreja de S. Francisco onde pregou, tendo grande auditório e foi muito cumprimentado por diversas pessoas de categoria.
 
24-6: A autoridade administrativa não consentiu que a ronda de N.ª S.ª da Lapinha viesse hoje a Guimarães, como estava destinado.
 
25-6: A Associação Comercial deliberou ficasse exarado na cata um voto de profundo desgosto pela forma como a autoridade administrativa, com a injustificada proibição de todo o culto externo continua causando gravíssimos prejuízos ao comércio local.
 
8-7: São presos os monárquicos José Joaquim Vieira de Castro, negociante de marcearia, a S. Dâmaso, Manuel de Freitas, mestre alfaiate, no Toural, e Augusto Pinto Areias, negociante de panos, no Toural. Levaram-nos para Braga, após a prisão, em automóvel, passeando-os pelas ruas desta cidade, de escárnio, e depois seguiram.
 
24-7: À noite saiu do presídio policial, onde estivera desde a manhã do dia 18 deste mês, por conspirador, o padre João (das Petas) Pedro Bourbon.
 
27-7: Em consequência dos protestos, vindos já de dias atrás, contra a carestia de vida, provenientes de movimentos da classe de trabalhadores, nomeadamente dos alfaiates e costureiras, dos fabricantes de calçado, marceneiros e artes correlativas e da indústria têxtil, que chegaram a reunir e a expor as suas dificuldades ao administrador do concelho e ao comandante do Regimento de Infantaria 20, “a autoridade administrativa, com uma actividade incansável e um zelo extraordinário, obrigou os açambarcadores a encolherem as garras que sorrateiramente queriam lançar sobre o milho, sustento da pobreza. Também obrigou aqueles que queriam vender este cereal por preços caros a baixarem de preço”, segundo divulgava “O Comércio de Guimarães”.
 
FARIA, João Lopes, Ephemérides , manuscrito, Sociedade Martins Sarmento

quarta-feira, 24 de março de 2010

Protagonistas: Henrique Mitchell de Paiva Couceiro (1861-1944)

Paiva Couceiro
 
Nasceu em Lisboa a 30 de Dezembro de 1861. Assentou praça no regimento de cavalaria Lanceiros de El-Rei, em 14-I-1879. Matriculou-se na Escola do Exército, curso de Artilharia, em 1881. Promovido a 2.º tenente, foi colocado no Regimento de Artilharia 1, em Campolide, servindo depois no Regimento de Artilharia 3, em Santarém, e nas Baterias a Cavalo, em Queluz. Militar africanista, participa nas campanhas de 'pacificação' em Angola, designadamente nas terras banhadas pelo rio Cubango. Em 1894, foi nomeado ajudante de campo de António Enes, sendo designado Governador-geral de Angola de 1907 a 22 de Julho de 1909. Por ocasião do 5 de Outubro de 1910, foi um dos poucos oficiais que de facto se bateu em defesa do regime monárquico, apresentando em 21 de Abril do ano seguinte requerimento solicitando a demissão de oficial do exército, apesar de o Governo Provisório o ter convidado, logo em 14 de Outubro, para presidir à comissão encarregada de estudar a colonização de Benguela. Exila-se em Espanha, de onde comandará as incursões monárquicas de 1911 e 1912, a partir da Galiza. Participa, em 30 de Janeiro de 1912, no designado 'Pacto de Dover', pelo qual as diferentes facções monárquicas chegam a acordo. Em 1919, proclama a breve 'Monarquia do Norte'. Regressou posteriormente a Portugal, dirigindo, em 31 de Outubro de 1937, uma carta ao Presidente do Conselho Oliveira Salazar, em que protestava contra o desleixo em que se encontrava a defesa das possessões coloniais. Remetido de novo ao exílio em Espanha, de onde voltará, doente e alquebrado. Morreu em Lisboa a 11 de Fevereiro de 1944.

terça-feira, 23 de março de 2010

1912 : Manuel de Arriaga em Belém

Palácio de Belém, Lisboa

Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente da República eleito, ocupa um anexo do Palácio de Belém, pagando uma renda mensal de 100$00.

O Partido Republicano cinde-se em três formações políticas - União Republicana (Brito Camacho), Partido Democrático (Afonso Costa), e Partido Evolucionista (António José de Almeida); as crises governativas sucedem-se, mas a repressão do movimento operário permanece uma constante, assim como a crispação com a hierarquia católica e o Vaticano. As colónias voltam à ordem do dia, disputadas entre a Grã-Bretanha e a Alemanha. A segunda incursão monárquica é derrotada em Chaves. O Tribunal Militar de Chaves julga os implicados nas incursões monárquicas, e Paiva Couceiro é condenado ao degredo. Um português voa pela primeira vez em solo nacional.

sábado, 20 de março de 2010

Guimarães em 1911


20-4-1911:Principiou a demolição interior do Recolhimento do Anjo (vítima da República) e terminou dia 22 de manhã e, conforme alagavam, iam levando os objectos para o Convento das Capuchas.

28-4-1911: Greve dos operários curtidores e surradores, devido à precária situação que enfrentam, quer ao nível dos salários, e horas de trabalho. A greve termina poucos dias depois tendo os operários chegado a acordo com os industriais.

14-5-1911: Promovida pela direcção do Centro Republicano de Guimarães, apesar do mau tempo, realizou-se uma excursão a Vizela, onde os excursionistas fizeram um comício de propaganda eleitoral no qual houve grande chinfrim, que os jornais não noticiaram.

16-6-1911: A classe de alfaiates e costureiras declararam-se em greve.

19-6-1911: Saiu um bando percorrendo as ruas da cidade anunciando que pelas cortes gerais estava reconhecida a República em Portugal. Da varanda dos Paços do Concelho foi lida por um vereador, estando ali presente uma força do 20 de infantaria com a respectiva música, muito povo, mais duas bandas marciais, a Boa União e a de Pevidém; finda a leitura houve vivas, tocaram A Portuguesa, retirou a força para o quartel e a banda Boa União ficou 2 horas a tocar em coreto em frente da casa da Câmara e a do Pevidém tocando pelas ruas. À noite marcha au flambeaux com numerosos militares e republicanos, vivas a diversas (sic, no original); terminou às 11 horas.

25-6-1911: Veio a esta cidade Nª Sª da Lapinha; foi o 1º ano em que à sua passagem se endamascaram as janelas com cobertores, e no Toural, e principalmente na Rua de Camões, rebentou uma grande e entusiástica manifestação à S. Smª. Virgem Maria; foi delirante em vivas e saudações à Mãe de Deus.

27-6-1911: De madrugada apareceu completamente inutilizada a tabuleta de "O Comércio de Guimarães", na Rua de D. João I, e sujas com excremento as portas do estabelecimento de António Joaquim d'Azevedo Machado, na Rua da República. Destes actos o administrador do concelho remeteu ao delegado do procurador da república, nesta comarca, e auto de investigação a que procedeu contra os díscolos (isto: fogo de vistas para inglês ver).

3-7-1911: Principiaram a tirar as grades do Toural e levaram-nas para fazer um mercado nas Taipas.

6-7-1911-Às 6 horas da manhã foi apeada a estátua de D. Afonso Henriques que estava colocada no terreiro de S. Francisco e ia o ser no Toural. A cabeça já lha haviam tirado ontem, 5, e a espada num dos últimos dias de Junho, pelo S. João, e só ontem principiou a desmontagem da estátua porque esperou-se pela vinda de um operário da fábrica de fundição de Massarelos.

18-7-1911-Em Cardido, S. Cristóvão de Selho, trava-se um conflito entre republicanos e monárquicos, trocando-se tiros e havendo feridos. - "O Século".

20-7-1911: Concluiu o julgamento de Agostinho de Oliveira, Francisco de Freitas Guimarães e Luís Fernandes, acusados de soltarem gritos subversivos após a passagem da procissão de Passos, no Toural. Foram condenados em 30 dias de prisão correccional remissíveis a 500 reis diários.

22-7-1911: Declararam-se há dias em greve os operários das fábricas de tecidos de Riba De Ave e Negrelos, indubitavelmente as mais importantes do norte do país, uma junta do Rio Vizela, outra nas margens do Ave. O movimento foi inesperado e parece que o operariado se queixa de precária situação, como por exemplo, trabalhando 14 horas, sofrerem muitas multas, vexames e receberem pequeno salário. Na 4ª feira, às 10 horas da manhã, uns 4 mil a 5 mil operários vindos de S. Tirso e Negrelos trazendo à frente um tambor deram ingresso no populoso e industrial lugar de Pevidém e invadindo as importantes fábricas de cotins e riscados obrigaram os operários a abandonar o trabalho, aderindo uns e fugindo outros pelas traseiras das fábricas.

13-8-1911: Domingo. - À noite quando a banda regimental tocava o hino nacional "A Portuguesa" no jardim em S. Francisco, uma grande parte das pessoas que aí se encontravam conservou-se de chapéu, alguns republicanos, exasperados com o facto, quiseram obrigar diversos indivíduos a descobrir-se, no que não foram obedecidos, originando-se então graves alterações da ordem pública e distúrbios, que depois se repetiram no Campo da Feira, os quais só serenaram coma intervenção da força armada de infantaria 20, a qual recolheu à uma hora da madrugada conduzindo 2o presos que deixou na administração do concelho. Quando se deram os distúrbios no jardim e no Campo da Feira, tocaram a incêndio os sinos das torres de S. Francisco, Campo da Feira e S. Paio. No jardim encontrava-se um grupo de indivíduos formigas (palavra sublinhada no original) com o propósito de provocar o conflito, pois já antes em alguns dias (23-VII e...) em que a banda aí tocara houvera pequenas questões e insultos pelo mesmo motivo. Para averiguar e inquirir do sucedido, veio depois o dr. Sá Fernandes, juiz de investigação criminal do Porto.

20-8-1911: Domingo. - Às 11 horas da manhã, nos Paços do Concelho, em cumprimento do deliberado em sessão extraordinária da comissão administrativa da Câmara Municipal de 17 deste mês e por seu convite, houve uma reunião pública das diferentes colectividades vimaranenses e entidades oficiais do concelho, presidida pelo presidente da dita comissão, José Pinto Teixeira de Abreu, o qual expôs que o fim era para protestar e repelir os desacatos sucedidos no domingo 13 do corrente, nesta cidade, e de todos afirmarem a sua solidariedade coma as instituições republicanas, e terminou levantando vivas à Pátria (para tapa olhos), à república e a povo de Guimarães!!! (a algum uma no cabo e outra na...). Depois falou o administrador do concelho. O secretário da Câmara que os presentes assinaram.

3-9-1911: No jardim houve outros tumultos no fim da execução da "Portuguesa", por não se descobrirem todos os cavalheiros que por completo enchiam o jardim. Depois levantaram vivas ao Bernardino Machado, Afonso Costa, etc. O administrador procurou acalmar os ânimos, o que não pôde conseguir, pelo que foram mantidas duas prisões, sendo os presos conduzidos à esquadra no meio de uma escolta de soldados de cavalaria. As manifestações do regime prolongaram-se por muito tempo e estiveram eminentes vários conflitos, por a distinção que deram a essas lamentações.

3-11-1911: Às 5 e meia horas da tarde chegou a esta cidade, tendo entrada entusiástica o brilhante o dr. António José de Almeida. Às 6 horas no teatro D. Afonso Henriques discursaram o Dr. Alfredo Pimenta, Américo de Oliveira, Amorim de Carvalho e o Dr. António José de Almeida que fez uma conferência de propaganda republicana. Em seguida houve banquete de 50 talheres no grande hotel do Toural. O doutor retirou no dia seguinte para a Póvoa de Varzim.

15-11-1911: A Câmara delibera que a rua de S. Sebastião (rua Travessa) seja rua do Dr. Bento Cardoso e a rua Nova do Comércio seja rua de Egas Moniz.

13-12-1911: Na capela de Santa Luzia não houve festa, e em 1912 idem.

FARIA, João Lopes, Ephemérides, manuscrito, Sociedade Martins Sarmento

sexta-feira, 19 de março de 2010

1911 - Reformas e agitação política

Das eleições gerais realizadas em Maio de 1911 saíra o I Governo Constitucional e a Assembleia Nacional Constituinte. Composto predominantemente pela média burguesia, o parlamento tinha como tarefa principal a elaboração da Constituição da República.
Desde o início que no I Governo constitucional (presidido por João Chagas) se reflectiam as divisões do Partido Republicano Português, essencialmente uma frente comum de combate à Monarquia. Primeiro verificou-se a fractura entre o partido e o Governo e, mais tarde, dentro do próprio Executivo as rivalidades estalaram opondo Afonso Costa, o ministro mais radical, a Bernardino Machado e António José de Almeida, mais moderados. Posteriormente estas divisões deram origem a partidos políticos: União Republicana (Brito Camacho), Partido Democrático (Afonso Costa); e Partido Evolucionista (António José de Almeida). A eleição presidencial foi o momento em que se tornaram mais evidentes as cisões da família republicana. Foi eleito Manuel de Arriaga apoiado por António José de Almeida e Brito Camacho, contra Bernardino Machado, candidato de Afonso Costa. Para evitar clivagens o novo Presidente da República defendeu um Executivo de unidade, com gabinetes então denominados de concentração compostos por almeidistas e camachistas. Neste Portugal de seis milhões de habitantes, com uma taxa de analfabetismo de 75%, a República recém-instaurada, de evidente pendor jacobino e anti-clerical, publica os seus principais esteios legais, designadamente a Lei de Separação do Estado Igrejas e a Constituição. Ao mesmo tempo, cria as Universidades de Lisboa e do Porto e reforma o Ensino Primário. De Espanha, as primeiras incursões monárquicas, que o novo poder consegue jugular com relativa facilidade. Do interior, a crescente afirmação reivindicativa dos operários e trabalhadores agrícolas – reprimida pelos sucessivos governos. Enquanto isso, a situação económico-financeira do País ia-se agravando e a agitação social crescia.

MENDES, João Fragoso, (2005), Memória do Escudo, Prosafeita (adaptado)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Guimarães em 1910

4-4-1910: Vieram a esta cidade, em excursão, os barbeiros de Braga.

17-4-1910: Domingo. Sai o 1º número do semanário republicano "Jornal de Guimarães", sendo seu director o guarda-soleiro António Lopes de Carvalho. Órgão da Comissão Municipal Republicana.

25-4-1910: Às 4 horas da manhã fez-se sentir um abalo de terra nesta cidade, com duração de 4 segundos

20-5-1910: Principiaram a funcionar todas as instalações do novíssimo estabelecimento termal das Caldas das Taipas.

20-7-1910: A greve dos tecelões ganhou todo o Vale do Ave, reivindicando horários iguais de Verão e de Inverno (que rondavam as 12 horas diárias, com intervalo para almoço), salários estabilizados e o fim dos castigos corporais aos menores.

22-7-1910: Declararam-se há dias em greve os operários das fábricas de tecidos de Riba de Ave e Negrelos, indubitavelmente as mais importantes do norte do país, uma junta do Rio Vizela, outra nas margens do Ave. O movimento foi inesperado e parece que o operariado se queixa de precária situação, como por exemplo, trabalhando 14 horas, sofrerem muitas multas, vexames e receberem pequeno salário. Na 4ª feira, às 10 horas da manhã, uns 4 mil a 5 mil operários vindos de S. Tirso e Negrelos trazendo à frente um tambor deram ingresso no populoso e industrial lugar de Pevidém e invadindo as importantes fábricas de cotins e riscados obrigaram os operários a abandonar o trabalho, aderindo uns e fugindo outros pelas traseiras das fábricas
18-8-1910: Terminou a greve dos operários têxteis do Pevidém.

6-10-1910: Às horas da manhã chegaram os jornais do Porto com a notícia de em Lisboa ter sido implantada a república.

7-10-1910: Às horas da tarde, tomou posse da administração do concelho o dr. Eduardo Almeida Júnior.

11-10-1910: Foi proclamada a República em Portugal. Em Guimarães, também houve manifestações de regozijo pelos adeptos do novo regime. Os republicanos têm sido correctos e bastante moderados nas suas manifestações, não havendo no meio de tanto movimento uma nota discordante 
2-11-1910: A comissão Municipal deliberou passassem a denominar-se: O Largo de Franco Castelo Branco, Campo da Misericórdia; a rua de D. Luís Iº, rua 5 de Outubro; a Avenida do Comércio, Avenida Cândido dos Reis; a Avenida da Indústria, Avenida Miguel Bombarda; a rua Caldeiroa, rua Dr. Trindade Coelho; a rua da Alegria, rua da Liberdade; a rua de Santa Maria, rua Elias Garcia; a rua de Santo António, rua 31 de Janeiro.

11-11-1910: A Comissão Municipal resolveu: que o Campo da Feira, passe a denominar-se Campo da República Brasileira; o largo do Seminário-Liceu, Largo Francisco Ferrer, em Vizela: o Largo Franco Castelo Branco, Praça da República; a rua de S. João, rua Elias Garcia, e a rua do Médico, rua Latino Coelho.

16-11-1910: A comissão municipal deliberou que a rua de Stª Cruz passe a dominar-se rua do Padre António Caldas.

28-11-1910: Saíu o 1º nº do jornal "Alvorada", director António Lopes de Carvalho.

1-12-1910: Festa da Bandeira Nacional - A Câmara organizou uma sessão solene no salão nobre da Sociedade Martins Sarmento, ao meio dia.

7-12-1910: Saiu o 1º nº do semanário "A Velha Guarda", órgão dos republicanos antigos desta cidade, dirigido por Mariano da Rocha Felgueiras, editor A. Barbosa de A. Guimarães.

10-12-1910: Saiu o 10º nº do jornal "Povo de Guimarães" (2.º semanário democrata, ao Domingo - Editor Manuel José da Costa Guimarães - Director e proprietário António da Silva Carvalho.

FARIA, João Lopes, Ephemérides , manuscrito, Sociedade Martins Sarmento

quarta-feira, 17 de março de 2010

26 de Março: Conferência sobre a República

O Prof. João Bonifácio Serra
 
O que é uma república? O historiador João Bonifácio Serra responde a esta pergunta, numa conferência que terá lugar no Salão Nobre da Sociedade Martins Sarmento, no próximo dia 26 de Março, às 21:00 horas. A iniciativa integra-se na Semana Aberta da Escola Secundária Francisco de Holanda e é dinamizada pelo Sub-Departamento de História. A entrada é livre.

João Bonifácio Serra é Professor Coordenador da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (ESAD) do Instituto Politécnico de Leira e membro do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É director do mestrado em Gestão Cultural da ESAD, onde lecciona as unidades curriculares de História das Ideias, Estudos Urbanos e Cidades Criativas. Exerce funções de direcção na Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça.

Foi até Dezembro de 2009 vogal executivo da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República e é actualmente membro do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães, entidade responsável pela programação de Guimarães, Capital Europeia da Cultura em 2012.

É autor de diversos estudos sobre questões de história política portuguesa dos séculos XIX e XX e de história local e regional. Colaborou em obras colectivas sobre história da República e do republicanismo. Foi comissário de exposições relativas à mesma temática.

Leccionou no ensino secundário e foi investigador do Instituto de Ciências Sociais. Proferiu conferências e participou em colóquios e seminários em universidades portuguesas e estrangeiras. Coordenou e participou em acções de formação para professores no âmbito da história e do património.

João Serra foi assessor e Chefe da Casa Civil do Presidente da República Jorge Sampaio (1996-2006), integrou a Comissão Nacional para as Comemorações do Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas (1999-2001), foi membro do Conselho de Imprensa (1988-1989) e da Direcção do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (1976-1978). Foi também fundador da Associação de Professores de História e da Associação Património Histórico - Grupo de Estudos, das Caldas da Rainha.

terça-feira, 16 de março de 2010

1910 - Substituir o velho pelo Novo

 
Lisboa, após o dia 5 de Outubro, deixou de ter polícia nas ruas. Civis armados encarregaram-se daquilo que os jornais designaram de “vigilância popular”. Assinale-se que nos dias imediatos à revolução a capital registou uma vaga de crimes sem precedentes

Teófilo Braga assumiu a chefia do Governo Provisório (e da República) composto pelos grandes nomes republicanos: Afonso Costa, na Justiça e nos Cultos; António José de Almeida, na pasta do Interior; Bernardino Machado, nos Negócios Estrangeiros; e Brito Camacho, no Fomento. As prioridades do Executivo eram, no plano interno, a consolidação do novo regime e, no plano externo, o reconhecimento internacional da nova República.

Face a uma Europa conservadora e predominantemente monárquica, a República Portuguesa teve como grande preocupação manter a ordem e a tolerância social, travando iniciativas de tipo revolucionário. Pretendia-se a imagem de uma República ordeira e responsável.

Consumada a mudança de regime era tempo de substituir o velho pelo novo. E foram Afonso Costa e António José de Almeida com as suas reformas que lançaram os alicerces do novo Estado burguês e liberal. Sem operar grandes modificações no plano económico e social, a República desencadeou principalmente um processo de modernização cultural e a laicização das mentalidades, assente nos valores burgueses. Com a lei da Separação da Igreja e do Estado (de Afonso Costa), surgiu um novo quadro institucional. A Igreja perdeu os seus poderes. As ordens religiosas foram expulsas e os seus bens confiscados.

António José de Almeida, responsável pela Instrução, acabou com o predomínio da Igreja no ensino e com o monopólio da Universidade de Coimbra, criando as de Lisboa e Porto.
As mulheres adquiriram novos direitos, introduziu-se o divórcio e o casamento pelo civil. Com a anulação da tutela eclesiástica surgiu uma nova ética das relações familiares e da situação da mulher na sociedade. No plano social destacou-se a protecção da infância e da terceira idade e a lei do direito à greve.

Foi durante o Governo Provisório, que durou cerca de um ano, que maior número de reformas se fizeram, mais pelo empenho dos seus ministros, assinale-se, do que pela coerência de um programa global do próprio Executivo. Para consolidar a nova ordem republicana, o regime adoptou uma nova simbologia: uma nova Bandeira Nacional, um novo Hino e uma nova moeda - o Escudo substituiu o Real.

Mas se a Bandeira e o Hino mudaram quase de imediato, a moeda monárquica resistiu até muito tarde, só saindo totalmente de circulação quase uma vintena de anos depois, em 1929.

MENDES, João Fragoso, (2005), Memória do Escudo, Prosafeita (adaptado)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Guimarães em 1909


28-1-1909: Viu a luz pública o número 1º do jornal "Comércio do Norte", semanário, tendo por director e proprietário nos primeiros 3 números João Pereira Mendes e depois seu irmão Domingos Pereira Mendes. Publicou 24 números até 8-7-1909 e findou o comércio do Norte.

sd-2-1909: Para ajardinar o Campo da Feira foram postas 50 árvores. Passados poucos dias apareceram cortadas 7, as outras secaram todas.

14-4-1909: Saiu em procissão de penitência, em Creixomil, a imagem de S. Sebastião, em andor, por causa da epidemia da varíola que grassava na mesma freguesia, sendo grande o concurso de povo nela, bem como nas preces que a precederam.

22-4-1909: Saiu da igreja de S. Dâmaso em procissão de penitência a imagem de S. Sebastião e no dia 14 tinha saído em Creixomil, por causa da epidemia da varíola que na dita freguesia de Creixomil grassava.

23-4-1909: Às 5 horas e 10 minutos da tarde houve nesta cidade 2 tremores de terra e no dia seguinte, 24, às 2 horas e 7 minutos da manhã, sentiram-se pequenas agitações.

1-5-1909: Ao meio dia houve um pequeno incêndio na sacristia da Confraria do S. Sacramento da Colegiada, devido a um morrão caído no caixão dos pingos da cera; compareceram alguns bombeiros que depressa o apagaram sem auxílio do material.

2-5-1909: Domingo. - A Associação dos Bombeiros Voluntários realizou um bando precatório em benefício das vítimas do terramoto de Ribatejo; rendeu 444$620 reis.

8-7-1909: Com o nº 24 suspendeu a publicação o jornal "Comércio do Norte".

5-9-1909: Romagem e grande peregrinação à Penha.

28-9-1909-28: O sr. Bernardino Jordão enviou à direcção geral dos telégrafos e industrias eléctrico o projecto para a modificação da instalação da luz eléctrica.

31-10-1909: Começou a funcionar a nova empresa Jordão, da Luz Eléctrica, na Avenida do Comércio.

3-11-1909: Decreto, publicado no "Diário do Governo" de 9 deste mês, autorizando a câmara de Guimarães, a aplicar na conformidade do projecto superiormente aprovado em 16 de Setembro último, em substituição daquele a que se referia a deliberação da mesma câmara de 11 de Abril de 1906, a parte que na quantia de 52:200$000 réis de empréstimo aprovado por decreto de 20 de Setembro de 1906 fora destinada às obras de exploração e canalização de águas potáveis nas Caldas das Taipas.

7-11-1909: Foi benzida e inaugurada solenemente a nova igreja paroquial de S. João das Caldas de Vizela, estando por concluir, faltando construir toda a capela-mor e alguns altares.

11-12-1909: A fim de dar princípio à organização da Associação dos Alfaiates e Costureiras reuniu a classe de alfaiates e nomeou uma comissão para arranjar os primeiros trabalhos.
FARIA, João Lopes, Ephemérides, manuscrito, Sociedade Martins Sarmento.

1910 – “O único herdeiro do trono é o Povo”

As barricadas levantadas pelos populares na Rotunda eram completamente ineficazes sob o ponto de vista militar, mas passaram à história como imagem de marca da revolução republicana e do envolvimento civil na queda da Monarquia
A República inicia-se na manhã de 5 de Outubro de 1910, quando José Relvas a proclamou da varanda da Câmara Municipal de Lisboa. Tal gesto consagrava não apenas uma revolução e uma mudança de regime, mas também, e principalmente, a ascensão ao poder da burguesia e do Partido Republicano que, desde finais do século XIX, particularmente na sua última década, vinha acentuando uma cada vez maior influência na vida política portuguesa. Os preparativos para derrubar a monarquia que está refém das questiúnculas dos partidos e dos escândalos em que se afundam os seus dirigentes e a Corte, foram coordenados pela Comissão de Resistência, criada em 14 de Junho de 1910. Incluía membros da Maçonaria, da Carbonária e do Partido Republicano, como Miguel Bombarda, Cândido dos Reis, Simões Raposo, Cordeiro Júnior, Francisco Grandela, Machado dos Santos, António Maria da Silva e Martins Cardoso.

As barricadas levantadas pelos populares na Rotunda eram completamente ineficazes sob o ponto de vista militar, mas passaram à história como imagem de marca da revolução republicana e do envolvimento civil na queda da Monarquia

A 2 de Outubro, a revolução foi marcada para a madrugada do dia 4. À hora prevista Machado dos Santos desencadeou o movimento, com o ataque ao Regimento de Infantaria 16, em Campo de Ourique, e ao aquartelamento de Artilharia 1. Dirigiu-se, depois, para a Rotunda e Parque Eduardo VII onde se concentraram as suas forças. Junto ao rio, os marinheiros do quartel de Alcântara garantiam, entretanto, o prosseguimento da acção, apoiados pelo poder de fogo dos cruzadores S. Rafael e Adamastor que se tinham junto aos revolucionários. Esses vasos de guerra bombardearam intensamente as tropas leais à monarquia, que defendiam o Palácio das Necessidades.

A maioria das unidades militares de Lisboa não aderiu à revolta, o que, a dado passo, levou os responsáveis republicanos a acreditar no insucesso da sua acção (o almirante Cândido dos Reis suicidou-se no convencimento que o golpe estava perdido). Mas, a partir da Rotunda, Machado dos Santos persistiu, acompanhado pelo fogo dos cruzadores. Como a resposta monárquica foi descoordenada e pouco convincente (apesar dos esforços de Paiva Couceiro e das suas tropas), a manhã de 5 de Outubro surgiu com a rendição do comandante Militar de Lisboa e, depois, com a posse, no Governo Civil, do Directório Republicano.
MENDES, João Fragoso, (2005), Memória do Escudo, Prosafeita (adaptado)

domingo, 14 de março de 2010

Que República se comemora em 2010?

Em 2010, a propósito do “centenário da república”, vamos comemorar o quê? Uma ideia – a ideia de república? Um acontecimento – o derrube revolucionário da monarquia constitucional nas ruas de Lisboa em 5 de Outubro de 1910? Ou um regime – o que resultou do monopólio do Estado e do constrangimento da vida pública por um partido da esquerda radical, o Partido Republicano Português, entre 1910 e 1926? (…)

Se é para comemorar a ideia de república, a escolha do 5 de Outubro de 1910 não é a mais feliz, embora seja há muito tempo feriado nacional. É que aquilo que desde o séc. XVIII interessou aos verdadeiros “republicanos” nunca foi saber se o chefe de Estado é electivo ou não mas o tipo de Estado e vida pública. O ideal republicano era o de uma comunidade de cidadãos independentes a viver sujeitos às leis e não ao arbítrio de outros homens, mesmo que tivessem um rei, como a Grã-Bretanha. (…)

Gostamos de contrastar o actual regime democrático, desde 1974, com a ditadura do Estado Novo (1933-1974). Mas o regime implantado em Portugal em 1910 e que durou até 1926, a chamada I República, tem tão pouco a ver com a actual democracia como o salazarismo. A I República passou por várias situações e foi dirigida por várias personalidades. Mas na sua versão dominante, associada ao monopólio do poder pelo Partido Republicano Português de Afonso Costa, foi um dos regimes mais intolerantes, exclusivistas e violentos do séc. XX em Portugal.

A I República foi ainda o primeiro regime a excluir expressamente as mulheres da vida cívica, ao negar-lhes por lei o direito de voto. Nas colónias de África, seguiu uma política dura e racista, que em 1915 chegou ao genocídio das populações do Sul de Angola. Afonso Costa forçou ainda a entrada de Portugal na I Guerra Mundial (1914-1918). Em dois anos, houve quase tantos mortos como nos 13 anos de guerras coloniais entre 1961 e 1974. É com este regime que a nova democracia portuguesa quer identificar-se em 2010? (…)

O grande problema da I República de 1910-26 foi saber-se se era um regime aberto a todos os portugueses ou só para alguns. Os líderes do dominante Partido Republicano Português de Afonso Costa, situado na esquerda radical, achavam que devia ser só para os militantes do seu partido, que monopolizavam o Governo e todos os empregos no Estado. Recusavam o princípio da alternância no poder (”na república não se governa para a direita”) e qualquer desvio à linha anticatólica. 

Outros republicanos – como os Presidentes Manuel de Arriaga e Sidónio Pais e o “fundador da república”, Machado dos Santos – quiseram, pelo contrário, fazer uma “república para todos os portugueses”, isto é, conciliadora com a Igreja Católica e aberta à participação no espaço público de quem não era militante dos republicanos ou não tinha ideias de esquerda. Por isso, Arriaga foi deposto em 1915 e Sidónio e Machado dos Santos assassinados (em 1918 e 1921). (…)

Como salientou o historiador Vitorino Magalhães Godinho, os reis e as cortes portuguesas a partir do século XV sempre pensaram no reino de Portugal como uma “república” no sentido clássico: um governo em que, independentemente da origem do poder dos governantes, estes regiam o Estado tendo em conta o bem público e de uma maneira regular e legal, sem arbítrio pessoal.

Mais tarde, sobretudo a partir do século XVIII, acrescentou-se a esta ideia de república o princípio da participação dos cidadãos no governo, através de instituições representativas e em nome da soberania da nação. A monarquia constitucional portuguesa, no século XIX, foi esse tipo de “república”. Portugal já era, neste sentido, “republicano” muito antes de 1910.

Rui Ramos no Correio da Manhã a 05 de Outubro 2009

segunda-feira, 8 de março de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Personagens: os regicidas



Alfredo Luís da Costa (1885-1908)

Nasceu em Casével, Castro Verde, em 1885. Fundou um jornal para a defesa dos empregados do comércio em Angra do Heroísmo, fez propaganda republicana, escreveu em jornais de classe em Lisboa, foi caixeiro viajante, presidiu à Associação dos Empregados do Comércio de Lisboa e fundou a Social Editora, com Aquilino Ribeiro. Lançou vários folhetos de propaganda. Participou na intentona de 28 de Janeiro de 1908 e no atentado de 1 de Fevereiro de 1908, contra o rei D. Carlos I e D. Luís Filipe. Juntamente com Manuel Buiça foi um dos regicidas, sendo morto pela polícia no local.



Manuel dos Reis da Silva Buiça (1876-1908)

Professor, nasceu em Vinhais em 1876. Foi 2.º sargento no regimento de Cavalaria de Bragança. Em Lisboa ficou conhecido como professor do ensino secundário, leccionando designadamente na Escola Universal e na Escola Nacional. Republicano e carbonário, participa na intentona de 28 de Janeiro de 1908 contra o governo de João Franco, e foi um dos regicidas que a 1 de Fevereiro de 1908 mataram o rei D. Carlos I e o príncipe Luís Filipe. Foi morto no local. Tornou-se uma figura legendária devido ao seu protagonismo no atentado do Terreiro do Paço. Deixou dois filhos (um rapaz e uma rapariga), para quem foi aberta uma subscrição pública depois da morte de seu pai.

“DIÁRIO” DA REPÚBLICA: O Regicídio - 1 de Fevereiro de 1908

Gravura representando o regicídio, por Rocha Martins. Nesta visão do acontecimento, o «landau» dá entrada na Rua do Arsenal, já com D. Carlos e D. Luiz Felipe tombados, enquanto Alfredo Costa (à direita, em primeiro plano) e Manuel Buiça (à esquerda, ao fundo, sofrendo uma espadeirada) são abatidos pela polícia e pela escolta que acompanhava o cortejo das carruagens. 01 FEV. 1908. - (Fundação Mário Soares)

O rei D. Carlos, sua mulher D. Amélia e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe tomaram o comboio em Vila Viçosa às 11 horas, em direcção ao Barreiro, sofrendo a viagem um atraso de três quartos de hora devido a descarrilamento em Casa Branca. O vapor D. Luís, dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, transportou a família real até Lisboa, atracando pouco depois das cinco da tarde. A esperá-los, estava o infante D. Manuel, que viera das Necessidades num landau (carruagem aberta) com o visconde de Asseca, o Presidente do Ministério João Franco e elementos do governo e da corte. 

A família real entrou num landau: "No fundo a minha adorada Mãe dando a esquerda ao meu pobre Pai. O meu chorado Irmão diante do meu Pai e eu diante da minha Mãe" (in Diário de D. Manuel). Atrás, seguiam os condes de Figueiró e o marquês de Alvito. João Franco vinha num coupé, em quarto lugar.
Quando a carruagem real estava perto da curva para a entrada da Rua do Arsenal, "um homem de barba preta [Manuel Buiça] com um grande gabão", vindo pela retaguarda e afastando as abas do capote, agarrou na carabina que transportava (Winchester, modelo 1907), apontou e descarregou o primeiro tiro, que acertou no pescoço de D. Carlos, matando-o. Apontou e descarregou de novo, atingindo desta feita o rei no ombro. 

Enquanto isto, vindo das arcadas, Alfredo Costa, armado com uma pistola Browning FN, calibre 7,65, avança para a carruagem real. Subindo para o estribo, dispara quase à queima-roupa sobre o rei. D. Luís Filipe levanta-se, de revólver em punho, mas antes de poder disparar, Costa atinge-o no peito. A rainha, de pé, agita um ramo de flores, gritando "infames, infames!" 

Seguiu-se a confusão, com a polícia à espadeirada e a disparar em todas as direcções. D. Manuel diria mais tarde: "começou uma perfeita fuzilada, como n'uma batida às feras!" Ambos os regicidas cairam mortos. Eram cinco e meia da tarde. Também o transeunte João Sabino da Costa, ourives, foi morto pela escolta.
A carruagem seguiu, a toda a velocidade, para o Arsenal da Marinha, onde o rei já entrou morto e o príncipe herdeiro agonizante, falecendo pouco depois. O Infante D. Manuel também estava ferido num braço, sem gravidade. 

Ainda hoje se desconhecem os contornos exactos da acção que levou à morte do rei e do príncipe herdeiro, avultando as conjecturas que pretendem implicar outros diversos participantes ou que entendem que o verdadeiro alvo do atentado seria o ditador João Franco. Mas o certo é que não foram encontrados até hoje os processos judiciais organizado após o regicídio, cuja instrução foi cometida pelo Paço, sucessivamente, a três juízes de Instrução Criminal, que prenderam numerosos "suspeitos" e lançaram múltiplas acusações. Sem qualquer resultado... 

Como afirmou o último chefe do governo da monarquia, Teixeira de Sousa, que ao tempo era director da Alfândega e tudo presenciou da janela do seu gabinete no Ministério da Fazenda, "Eu assisti ao desenrolar do regicídio e vi, inequivocamente, que os que haviam disparado contra a carruagem real haviam sido ali mortos. Os regicidas caíram no Terreiro do Paço."
A situação do país nas vésperas do regicídio era fortemente marcada pela ditadura do governo de João Franco e os seus "constantes atropelos à lei fundamental". É nesse contexto que muitas notícias da época revelam a frieza com que foi acolhida a morte do rei, abandonado pelos seus, ninguém parecendo especialmente comovido. "Os fidalgos, os pares do reino, os conselheiros, estavam todos enfiados em casa, a tremer de medo." O próprio funeral de Estado, cheio de pompa, decorreu friamente. Do outro lado "o clamor vitorioso de vindicta, que se ergueu do coração do Povo" (in História do Regimen Republicano em Portugal). Ou como se escrevia na Loja maçónica A Sementeira, uma semana após o regicídio, deplorando embora os acontecimentos daquele dia: "às cinco horas da tarde do dia 1 de Fevereiro corrente, desapareceu o passado". 

Com a morte do rei e do príncipe herdeiro, subiu ao trono o infante D. Manuel.

http://www.fmsoares.pt/aeb/dossier09/default.asp, consultado em 31 de Janeiro de 2010


Fotografia do Terreiro do Paço, com indicações numeradas - organização de Rocha Martins para o livro que publicou sobre os acontecimentos de 1 de Fevereiro de 1908 No verso, várias indicações manuscritas: "Terreiro do Paço. Local exacto onde foi dado o regicídio."
(Documentos Carvalhão Duarte/ Rocha Martins/ Fundação Mário Soares)

A opinião pública

É um dogma do constitucionalismo, a equivalência dum artigo, que esqueceu outorgar na Carta e diria assim, pouco mais ou menos — Todos os partidos políticos da nação portuguesa desfrutam o aplauso da opinião, enquanto se conservarem no governo.

O chefe dum ministério proclama, aí pela manhã — tenho a meu lado a opinião pública — e o ministério que à tarde lhe sucede, imediata e categoricamente afirma que subiu ao poder a reclamações da opinião pública e vai com ela e por ela governar. Então acontece este fenómeno que não é falho de curiosidade — o ministério demitido, a oposição, e outros partidos, igualmente oposicionistas, agridem o novo ministério, em nome da opinião pública, e empenham-se em derrubá-lo para satisfazer os urgentes e imperiosos desejos da mesma opinião pública. É em nome da opinião pública que os governos extraem os impostos, que ela paga do seu bolso; é em nome da opinião pública que o governo amordaça a imprensa, que diz representá-la; é em nome da opinião pública que se corre à pranchada quando ela barafusta no entusiasmo oratório dos comícios ou se movimenta, aos gritos, revolta e magnífica de desassombro. Foi em nome da opinião pública que, no antigo regime, se acenderam fogueiras que a cozinhavam de espeto e se tornaram célebres, na história dos mais sangrentos atentados, as carnificinas, as perseguições, as espoliações — que continuamente a escravizaram.

Mas o que é, afinal, a opinião pública? É o pretexto, a figura de retórica, o termo oco e enganador pelo qual, os que nos governam, fazem a sua vida. E o viva entoado pelos que estão no alto, e o morra que lançam, furiosos, os que anseiam por subir. Decomposta, analisada — a opinião pública é uma mentira. Se por ela se entende: a opinião do público, sempre notaremos que nunca o público teve opinião. O público português — na sua maioria lavrador ou pequeno industrial — anda a monte, analfabeto, degenerado, indiferente. Tem uma ideia no estômago — arranjar a sua vida; — tem uma ideia correlativa no cérebro — o patrão, o amo, o senhor. Varia a côdea, a ideia varia. Ele tem as suas magreiras e tem as suas pândegas. Por vezes sofre de azia, por vezes pula de contente. Quantos anos o trouxeram afastado dos negócios da sua pátria! Quantos anos, perguntado sobre o que seria Portugal, ele apenas diria, olhando a sua malga de caldo, olhando os trapos que escondem o pêlo fulvo do seu tronco, olhando para a mulher na gravidez do quinto filho e coçando a cabeça — é isto, a miséria! Pois lentamente, talvez demasiado lentamente, esse povo tem sido chamado à vida política, tem sido instruído no amor cívico. Por quem? Pelos republicanos. E, é triste mesmo assim confessá-lo, chegamos à hora em que o povo somente conhece do seu Rei o que do Rei propalam os sectários da república... No entanto, o governo invoca a opinião pública para fazer ditadura — enigmático paradoxo! — e os partidos monárquicos combatem-no, em nome da opinião pública. Quantos vinténs andarão aqui da tal e célebre opinião?

Eduardo de Almeida, Alvorada, n.º 1, Guimarães, 1 de Junho de 1907

Concurso “Guimarães e a República"

Largo de S. Francisco, Guimarães, 1910
No âmbito das comemorações do centenário da implantação da República em Portugal, a Escola Secundária Francisco de Holanda promove um concurso subordinado ao tema “Guimarães e a República", aberto à participação de alunos, pais/encarregados de educação e assistentes técnicos e operacionais da Escola Secundária Francisco de Holanda.

São aceites trabalhos nas modalidades de “Figuras e acontecimentos” (fotografia, cartaz, multimédia, blogue, página Web) e de “Curta metragem”.

Podem participar no Concurso todos os estudantes, matriculados no ano lectivo 2009/2010, na Escola Francisco de Holanda, os pais e encarregados de educação e os assistentes técnicos e operacionais. Os concorrentes podem apresentar-se individualmente ou em equipas. Cada equipa deverá ser constituída até ao limite máximo de 4 participantes. Cada equipa pode apresentar, no máximo, dois trabalhos a concurso em cada uma das modalidades. Todos os trabalhos terão que ser originais.
Paralelamente, são criadas na Escola uma oficina de História Local e outra de Imagem. Dos seus objectivos destaca-se o de apoiar os alunos na preparação dos trabalhos a submeter ao Concurso “Guimarães e a República”.

A Ficha de Inscrição pode ser obtida na portaria da escola-sede ou descarregada da plataforma moodle - http://www.esfh.pt/moodle, disciplina “Centenário da República”. O regulamento está disponível nos mesmos locais.

Ambos os documentos podem também ser obtidos aqui:

A Escola Secundária Francisco de Holanda assinala o 5 de Outubro


No centenário da instalação da República, a Escola Francisco de Holanda convida toda a comunidade escolar a participar nos acontecimentos com os quais pretende assinalar os valores e ideais de tão importante período da História de Portugal.

Com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910, os ideais da liberdade, da igualdade, da dignidade da pessoa humana e da justiça mereceram uma particular atenção dos responsáveis do novo regime. Reconhece-se o esforço do republicanismo nas acções políticas de combate às desigualdades sociais, através da educação e da cultura, e as reformas democráticas, com resultados nem sempre ajustados às necessidades e reivindicações da sociedade portuguesa.

Com a celebração do centenário da República pretende-se abrir espaço à reflexão e mobilização de toda a comunidade tendo em vista a construção de uma República cada vez mais justa, mais solidária e mais participada. Das acções propostas para a celebração do novo regime implantado em 5 de Outubro de 1910 destaca-se um concurso, destinado a toda a comunidade escolar, a elaboração de um "Diário da República", sobre os principais acontecimentos nacionais e locais, a realização de uma exposição comemorativa do centenário.

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